Caro Evan Hansen
- Margarida
- 28 de set. de 2019
- 3 min de leitura

SINOPSE:
"Quando uma carta que ninguém deveria ter visto, aproxima Evan Hansen de uma família em sofrimento pela perda de um filho, ele depara-se com a oportunidade de uma vida: o desfrutar do sentimento de pertença. Ele tem apenas de fingir que Connor Murphy, um rapaz manifestamente perturbado que frequentava a mesma escola, era o seu grande amigo secreto."
OPINIÃO 3 ESTRELAS
Antes de mais, quero agradecer à Editorial Presença, em especial à Doutora Bárbara Almeida, por me ter enviado um exemplar deste livro! Já não lia em português há muito tempo e não imaginava as saudades que sentia! Fiquei com muita vontade de apostar em literatura portuguesa!
Agora, relativamente ao livro em si. Esta é, sem dúvida, uma obra para para jovens adultos.
A escrita é muito descontraída e simples, o que cria a ilusão de proximidade com o narrador e com aquilo que ele está a sentir. O autor escreve para nós, sem rodeios, e o Evan parece estar à nossa beira, a contar-nos a sua história.
Apesar de ser uma narrativa triste, a princípio há bastante humor e não consegui evitar dar umas boas gargalhadas. Ainda assim, à medida que a história se desenrola, o livro torna-se um pouco mais frustrante. Não é ao Hansen que acontecem os eventos mais trágicos da narrativa, mas ele faz parecer que sim. As suas atitudes egocêntricas conseguem desviar a atenção do leitor das temáticas mais importantes do livro. Esta obra poderia desenvolver a homossexualidade, o suicídio, a auto-mutilação e a monoparentalidade, mas o autor foca-se naquilo que menos interessa, na lição que todas as crianças cedo aprendem: que mentir não compensa. Este facto empobreceu, a meu ver, a obra. Mencionar um assunto não é o mesmo que falar sobre ele e neste caso, houve muitas coisas importantes que ficaram por dizer.
Este livro teria sido melhor se a personagem principal tivesse sido o Connor, a Zoe, ou o Miguel. Todos eles teriam algo mais relevante a partilhar do que o Evan, até porque o Evan não partilhou nada de relevante. Passamos o livro à espera que ele se aperceba do problema em que se está a meter e que o confesse, mas isso só acontece a quarenta páginas do fim - é, sem sombra de dúvida, de arrancar os cabelos. Podemos tentar defendê-lo e dizer que teve a melhor das intenções, mas sinceramente, não sei como é que mentir a uma família que acabou de experienciar a trágica morte de um filho é algo moralmente aceitável.
Por último, resta-me apenas fazer uma observação à tradução, pois creio que algumas escolhas não foram as melhores. Para mim, uma boa tradução é aquela que me faz esquecer o idioma original. Não gosto de olhar para um texto e ver nele aquela que seria a frase em inglês, e neste livro isso aconteceu mais do que uma vez.
Traduzir é, na minha opinião, quase como reescrever uma obra, pois além de respeitar o autor, devemos ser fiéis à nossa própria língua. Devemos conhecer os seus limites e ao mesmo tempo as suas inúmeras possibilidades. Há coisas que só em inglês fazem sentido e há coisas que só fazem sentido em português. Não podemos tentar que uma língua seja a outra porque tal é impossível.
Dito isto, estou perfeitamente consciente de que ser tradutor de obras literárias não é fácil, sendo muitas vezes um trabalho mal pago, ingrato e com prazos bastante restritos. Além disso, é também um trabalho pouco reconhecido, e com isto aproveito para dar uma sugestão à editora: ao consultar a página informativa desta obra, em lado algum encontrei menção à tradutora. O seu nome não aparece nem abaixo do dos autores, nem na descrição detalhada do produto. É necessário carregar na opção "espreitar umas páginas" para ter acesso à folha de rosto e, finalmente, saber quem traduziu o livro.
A Editorial Presença não ficava a perder se adicionasse um campo para o nome da tradutora e mesmo do revisor. Creio até que valorizava, e em que medida, o vosso site!
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